A genética da raiva

By | quinta-feira, agosto 11, 2011 Leave a Comment

Cientistas investigam a influência dos genes no modo como cada um manifesta o sentimento e apontam de que forma o seu controle ajuda as pessoas a ter uma vida mais saudável

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O aborrecimento de ficar preso no trânsito ou ter o voo cancelado são justificativas comuns de quem perde a cabeça e tem ataques de raiva. A origem do mal, porém, pode estar além desses eventos corriqueiros. Para uma nova linha de estudos, a raiz da raiva está nos genes: alterações genéticas afetariam circuitos hormonais do organismo, fazendo alguns responderem de forma mais violenta do que outros aos problemas do dia a dia. Dessa maneira, a dificuldade em controlar o sentimento não deveria ser interpretada como resultado de uma personalidade moldada apenas por fatores ambientais e psicológicos. 

O peso da genética na forma como cada um processa a raiva vem sendo objeto de pesquisa e está discutido, por exemplo, em um trabalho da Universidade de Pittsburgh (EUA). Após a observação de 550 mulheres, provou-se que alterações em um gene relacionado ao funcionamento dos receptores de serotonina afetavam o modo como as voluntárias expressam a emoção. Esses receptores são “fechaduras” presentes na membrana dos neurônios. Eles permitem a entrada, nas células, da serotonina, substância envolvida no processamento das emoções. “Problemas na sua produção ou absorção estão associados a emoções negativas, como a raiva e a depressão, além de comportamento agressivo e impulsivo”, diz o neurologista Alexandre Ghelman, especialista em gestão do estresse e da raiva, do Rio de Janeiro.

A informação poderá servir para a criação de um teste para apontar indivíduos mais predispostos ao sentimento. Identificá-los é uma preocupação pertinente. É consenso que a raiva está associada a diversas doenças, entre elas as cardíacas. Uma revisão de 43 estudos realizada pela University College de Londres, por exemplo, mostrou que quem é mais explosivo possui entre 19% e 24% mais chances de ter doença coronariana. O dado preocupa ainda mais quando cruzado com outro, do Serviço de Saúde Pública dos EUA: 60% dos 1,8 mil entrevistados admitiram ter sentido raiva pelo menos uma vez na semana anterior à enquete. “A raiva é um sentimento popular e incentivado na sociedade moderna”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil. Porém, a especialista alerta que não se pode banalizar os comportamentos de raiva excessiva. “É preciso identificá-los e tratá-los.”
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AÇÃO
Maria (acima) agora evita os surtos.
Marilda (abaixo) destaca o lado bom da raiva
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Nem tudo, entretanto, é negativo quando o assunto é raiva. Quando bem controlada, essa emoção é instrumento de autopreservação. “Ela gera força e energia, que podem ser usadas como combustível para se defender de uma injustiça ou de um abuso”, diz a psicóloga Marilda No­vaes Lipp, da PUC-Campinas, especialista no tratamento da raiva. O importante é não exacerbar o sentimento nem retê-lo. “Sofrer em silêncio também causa alterações psicofisiológicas”, alerta o médico Renato Alarcon, da Clínica Mayo (EUA).

Manter o controle é útil, inclusive, para ajudar na recuperação de pacientes, de acordo com estudo da Universidade de Ohio (EUA). Entre os 98 voluntários, quem sabia regular melhor a emoção apresentava menores índices de cortisol, hormônio liberado em situações de estresse. Quanto menor sua quantidade, mais rápida a recuperação. “Isso mostra que terapias de controle da raiva podem ajudar o paciente a se recuperar”, disse à ISTOÉ Jean-Philip-pe Gouin, líder do estudo.

Sem contar que mais controle sobre a raiva permite uma vida mais tranquila. Foi o que aprendeu a empresária Maria da Silva, 54 anos. Quando ela estourava, sobrava para marido, funcionários e para o próprio corpo – ela, que é hipertensa, sofria com subidas repentinas da pressão arterial. “Depois que aprendi a controlar a raiva, vi que tinha de ponderar o que falava.” Está aí o segredo: o melhor, antes de tomar uma atitude impulsiva, é inspirar, expirar e avaliar se é mesmo necessário se incomodar com o que aconteceu. 
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 - Fonte: Revista ISTOÉ



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