Maria disse para D. Alba que havia perdido a família e a senhora, com pena, a contratou como doméstica. Acompanhe o segundo capítulo. (Capítulo 2)
'Levei um chacoalhão e, com ele, abri meus olhos. "Acorda, Maria, já chegamos!", disse a voz familiar de Damião. Olhei ao redor, ainda sonolenta. "Onde eu estou?", pensei. Prédios grandes e muita gente. Aquilo só significava uma coisa: chegara à capital. Não sabia exatamente o que devia fazer. Na verdade, estava tão amedrontada que nem conseguia falar. O caminhoneiro, então, apontou para uma igreja a poucos metros dali.
"Olha, filha, vá ali na paróquia e fale com o padre. Diga que precisa de ajuda!" Foi o melhor conselho que tive. Agradeci e, com muito medo, desci da boleia para o asfalto.
Enquanto via o caminhão ir embora, permaneci estática na calçada. Homens, mulheres, crianças e velhos disputavam espaço nas ruas movimentadas. Era um falatório sem fim, sem contar com as buzinas dos carros no engarrafamento. Senti uma vertigem, achei que fosse desmaiar.
Quando cheguei lá, vi umas moças rezando, ajoelhadas. Sentei no banco e fiquei olhando para a grande imagem de Jesus. "Não deixe nada de ruim acontecer comigo, por favor...", repetia baixinho. Sem coragem de procurar um padre, preferi ficar ali sozinha, com todos os meus medos. Uma senhora, de lenço florido na cabeça, me olhou. Ao notar que eu chorava, aproximou-se.
"Menina, cadê seus pais?", foi a primeira coisa que perguntou. Fiquei olhando para o rosto dela e pensando no que dizer. "Eles morreram...", murmurei, soluçando. Eu me senti a mais pecadora das pecadoras ao contar aquela mentira diante da imagem de Jesus. Na minha cabeça, estava condenada a ir para o inferno por causa daquilo. No entanto, foi aquela frase que motivou a tal mulher a me oferecer um emprego de doméstica em sua casa. Aceitei. Pronto, o milagre havia acontecido.
Dona Alba morava perto da igreja. Viviam ela e o marido, um militar aposentado. Nos fundos da casa havia um quartinho muito pequeno. Foi lá que, entre a tábua de passar roupas e a despensa, instalei minha cama e passei a morar. Em troca de um salário mínimo, limpava toda a residência.
Um mês depois do meu aniversário de 18 anos, comecei a achar que estava na hora de largar a vida de doméstica. Já fazia tanto tempo que eu estava na cidade grande que me sentia forte para ir atrás de meus sonhos. Sentadinha no meu quarto, folheava, naquela manhã quente de verão, as páginas de emprego do jornal. Todos os anúncios pediam algum tipo de escolaridade... e eu só sabia ler. Finalmente, voltei minha atenção para um deles.
Com o coração batendo forte, rasguei aquele pedaço de jornal e decidi ir ao endereço ali descrito. Uma mulher morena, com uma expressão no rosto de pessoa muito experiente, abriu a porta de ferro do pequeno escritório no centro da capital. "Então, você quer ser uma das dançarinas que nós mandamos para fazer shows na Europa?", quis saber, secando-me dos pés à cabeça. Fiz sinal positivo com a cabeça. Eu estava tão feliz e empolgada que nem percebi que aquilo não seria o início da realização de um sonho... mas, sim, do meu pior pesadelo! '
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