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Maria foi impulsionada a fazer programas pelo desejo de ganhar dinheiro e ajudar a família. (Capítulo 5)
"Eu tentava dançar enquanto segurava o poste viscoso e frio. Mas me desconcentravam, aqueles desconhecidos me olhando como feras diante de uma presa... Apesar da "roupa" quase invisível, eu suava e tremia. E só pensava no porquê de estar ali: ganhar dinheiro para ajudar minha família.
Vi dona Rosa me observando de longe. Ela gesticulou para que eu me mexesse mais. Aflita de vergonha, tentei me soltar um pouco naquele palco espelhado e de decoração duvidosa. Improvisei alguns passos de funk e os clientes aplaudiram e assoviaram. Fechei os olhos e embarquei numa viagem muito particular: em meus pensamentos, estava feliz, trabalhando num lugar onde todos me respeitavam e me queriam bem.
O devaneio virou pesadelo assim que senti uma mão pesada tocando minha coxa direita. Abri os olhos e, por reflexo, já ia chutar o rosto daquele tarado. Algo, porém, freou minha brusca reação: duas notas de dez euros colocadas nas laterais de minha tanga.
O velho embriagado sorriu e se afastou. Nunca havia visto aquele dinheiro na vida, mas devia valer muito. Avistei novamente minha chefa fazendo sinais para que eu dançasse... E foi o que eu fiz. Aos poucos, eles se aproximaram, cheios de luxúria e desejo, e me tocaram. Levei beliscões, tapinhas e passadas de mão por todo o corpo. Antes de se afastarem, deixavam grana em minha tanga e na alça do bustiê. Fingi um sorriso amarelo. Dona Rosa me olhou com aprovação: eu já havia aceito minha nova condição!
Dancei sem parar por cerca de seis horas. Quando saí do palco, com todo aquele dinheiro, me sentia consolada: "Se ganhar isso todo dia, vou ficar pouco tempo aqui...", pensei. De repente, dona Rosa apareceu e esticou a mão. Eu entendi e lhe entreguei as notas. Ela separou duas delas e me devolveu. "Se você quiser ganhar mais, arranjo uma hora extra...", devolveu, antes de me dar as costas. Eu sabia o que ela queria dizer com aquilo. Mas me fingi de idiota. "A senhora quer que eu dance mais, é isso?", perguntei. Ela riu, exibindo dentes manchados de batom vermelho e oleoso. "Programa, garota. Estou falando de fazer programa...", repetiu.
Quando cheguei no alojamento, desabei na cama e chorei. Minhas amigas compreenderam o que acontecera. "Maria, você vai acabar se acostumando...", disse Teresa, acariciando meus cabelos.
Por dois meses, consegui resistir à oferta de dona Rosa. Então, conheci Manoel, um moço romântico e bonito que quis me levar para sua casa após o show. Convenci-me de que se tratava de um encontro romântico. Num quarto pequeno e úmido de hotel, fizemos amor. Beijei e fui beijada. Agarrava Manoel como se fosse minha tábua de salvação para voltar ao mundo das mulheres decentes. Fiz tudo o que me pediu, sem pudores. Aguentei firme a dor de seu membro me penetrando por trás, como nunca permitira a ninguém. Quando ele acabou, fechei meus olhos e esperei que me beijasse. No entanto, ouvi a porta bater: ele havia ido embora e deixado o dinheiro sobre a cômoda. E era muito mais grana do que jamais havia imaginado ganhar na vida."
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