Conto: Escrava da ilusão - Capítulo 6 de 7

By | segunda-feira, novembro 28, 2011 Leave a Comment
Maria consegue dinheiro roubando um de seus clientes, que tentou abusar dela. (Capítulo 6)


"A primeira carta que mamãe mandou mexeu comigo. Ela escrevera com a simplicidade do seu português de semianalfabeta, mas com a grandiosidade da sua sabedoria de vida. "Filha, cuidado com o que anda fazendo!", disse, desconfiada de que o dinheiro não vinha somente de apresentações como dançarina. Chorei abraçada àquela correspondência tão preciosa. 

Depois de Manoel, comecei a sair com outros homens. Dona Rosa me indicava e eu os acompanhava até um hotel decadente nos arredores da boate. Alguns me ofereciam droga, mas sempre recusei. No entanto, comecei a me sentir outra Maria. Ao permitir que abusassem de meu corpo por dinheiro, deixava minha dignidade e meu amor próprio irem embora. Não era mais a mesma. 

Mamãe parou de escrever. Porém, continuei enviando o dinheiro. Rezava para que aquele montante estivesse ajudando meu povo a progredir e a ter uma vida melhor - que a minha, inclusive! 

Quando conheci João Victor na boate, achei algo estranho logo de cara. Apesar das roupas caras e do perfume agradável, parecia agitado. "Esse é cheio da grana. Pode cobrar bem!", avisou dona Rosa, ansiosa por seus 50% de comissão. Acertei os detalhes do programa e segui para o hotel. 

Assim que entramos no quarto, ele tirou um papelote de droga do bolso. Riu nervosamente, inspirou o pó branco e me agarrou com força. "Calma...", pedi, tentando me safar. Ele me deu um tapa e eu despenquei. 

Enquanto me recuperava da agressão, João tentava me abusar. Gritei, mas ninguém veio me socorrer. Ele tentou me beijar e me possuir à força, mas eu o impedi. Com forças que jamais imaginei ter, consegui desferir um chute no meio das pernas dele, que urrou de dor e cambaleou. Peguei sua carteira, tirei o dinheiro e saí correndo. Ainda o ouvi me xingando de todos os palavrões possíveis. E, sobretudo, me jurando de morte! 

"Preciso voltar para o Brasil, dona Rosa...", anunciei, naquela noite. A megera me ignorou. Fiquei desesperada, pois meu passaporte estava com ela. Contei o dinheiro que havia tirado da carteira do outro maldito. Era o suficiente para a passagem de volta. 

Sem mencionar nada sobre o incidente, avisei dona Rosa que estava doente e que não poderia dançar naquela noite. Ela ficou meio desconfiada, mas me liberou. Assim que todos saíram da casa, comecei a vasculhar todos os cantos atrás de meu documento. Remexi gavetas, armários e depósitos. Finalmente, achei uma caixa. Lá estavam o meu passaporte e os de todas as meninas.

Não havia muito tempo, pois João Victor certamente iria aparecer na boate atrás de mim e tudo seria revelado. Fiz minha mala e saí correndo do alojamento, sem me despedir de ninguém. Peguei um táxi e pedi que me levasse para o bairro do aeroporto. Lá, procurei um hotel barato e me hospedei. 

Com medo de colocar o nariz na rua, fui bem disfarçada até uma agência de viagens e comprei a passagem. Na volta, deparei-me com um carro de polícia estacionado na frente do hotel. Senti meu sangue gelar: finalmente, haviam me encontrado! "


CAPÍTULOS DO CONTO - ESCRAVA DA ILUSÃO:



  • Capítulo 1 - Escrava da Ilusão
  • Capítulo 2 - Maria conhece D. Alba
  • Capítulo 3 - A moça embarca para Portugal
  • Capítulo 4 - Maria é recebida com hostilidade em Portugal
  • Capítulo 5 - A dançarina sai com um rapaz
  • Capítulo 6 - Maria foge do pais
  • Capítulo final - Maria volta ao Brasil
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