Recorte do cartaz de 9 canções (2006)
No Brasil, o sexo é a oitava prioridade para elas - as mulheres - segundo pesquisa recente da Universidade de São Paulo. No entanto, estima-se que eles - os homens - sejam os principais contribuintes para a indústria pornográfica brasileira lucrar em média um bilhão de reais por ano, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico. "Vivemos o ranço de uma mentalidade machista que espera da mulher a castidade e do macho um currículo de vasta experiência sexual", diz o psicólogo, professor universitário e mestre em sociologia Valdeci Gonçalves. Autor do livro recém-lançado "Nuances dos Testes Psicológicos e Algumas Iniquitações Pós-Modernas", Gonçalves fala nesta entrevista sobre a atualidade, na qual o sexo é tratado ora com repressão ora com leviandade: "Sexo não éplayground, falta educação para se lidar com os sentimentos, sem noções de culpa ou pecado, mas sem esquizoidia - estar com todo mundo sem estar com ninguém".
Basicamente há dois pensamentos: o romântico de quem deseja transar somente com quem ama e o não-romântico de quem não depende de amar o parceiro para transar. Amor e sexo devem ser diferenciados?
V: As pessoas fazem essa divisão entre amor e sexo, em particular o homem. Mas a relação na qual esses dois aspectos estão em um mesmo “pacote” ou em sintonia, é, sem dúvida, uma vivência enriquecedora. No entanto, acredito que no bojo dessa divisão está a noção de pecado inculcado por meio da religião judaico-cristã. Essa culpa ou noção de pecado, e algumas inquietações pós-modernas, ficou no DNA social, uma terrível herança. Apesar de toda atual liberdade e, em alguns casos, libertinagem, sem se darem conta, muitos revivem a angústia deste “pecado”, talvez a promiscuidade seja o exemplo mais fiel disso, uma tentativa de se desvencilhar desse peso moral.
Uma pesquisa divulgada em 2009 pela Universidade de São Paulo apontou que o sexo é a oitava prioridade na vida das brasileiras. Homens e mulheres têm mesmo necessidades diferentes de fazer sexo?
V: Sim. O homem pela imediatez, simplicidade e aprovação plena da sua sexualidade se permite com mais frequência; a mulher, devido a um processo de excitação mais elaborado, no qual inclui, geralmente, os aspectos afetivos, também carregados de tabus e proibições construídos pelos vieses da cultura, é menos frequente e/ou menos explícita no sexo. A grosso modo, seria: o homem entra em qualquer “parada” para se aliviar sexualmente, e a mulher somente quando se julga envolvida ou o parceiro ser interessante, porque se for para se excitar e não chegar a um nível de satisfação, ou se envolver com alguém que, no seu conceito não valha a pena, é preferível nem tentar.
V: As pessoas fazem essa divisão entre amor e sexo, em particular o homem. Mas a relação na qual esses dois aspectos estão em um mesmo “pacote” ou em sintonia, é, sem dúvida, uma vivência enriquecedora. No entanto, acredito que no bojo dessa divisão está a noção de pecado inculcado por meio da religião judaico-cristã. Essa culpa ou noção de pecado, e algumas inquietações pós-modernas, ficou no DNA social, uma terrível herança. Apesar de toda atual liberdade e, em alguns casos, libertinagem, sem se darem conta, muitos revivem a angústia deste “pecado”, talvez a promiscuidade seja o exemplo mais fiel disso, uma tentativa de se desvencilhar desse peso moral.
Uma pesquisa divulgada em 2009 pela Universidade de São Paulo apontou que o sexo é a oitava prioridade na vida das brasileiras. Homens e mulheres têm mesmo necessidades diferentes de fazer sexo?
V: Sim. O homem pela imediatez, simplicidade e aprovação plena da sua sexualidade se permite com mais frequência; a mulher, devido a um processo de excitação mais elaborado, no qual inclui, geralmente, os aspectos afetivos, também carregados de tabus e proibições construídos pelos vieses da cultura, é menos frequente e/ou menos explícita no sexo. A grosso modo, seria: o homem entra em qualquer “parada” para se aliviar sexualmente, e a mulher somente quando se julga envolvida ou o parceiro ser interessante, porque se for para se excitar e não chegar a um nível de satisfação, ou se envolver com alguém que, no seu conceito não valha a pena, é preferível nem tentar.
"O desconhecimento do outro faz o sexo torná-los mais estranhos. Mas a intimidade excessiva faz a relação perder o tesão e não sobreviver"
Mas, mesmo assim, desconfio que essa diferença não passe tanto pelo biológico, e sim pelo cultural, que obrigou a mulher que, embora mais provocativa enquanto objeto sexual, por meio das vestes etc., é instigada ao recato. Uma contradição. Muitas mulheres ainda vivem o drama que se instalou: “puta” ou “santa”, de novo a consequência do sexo como pecado. A liberação sexual da mulher está sempre associada à conduta da profissional do sexo: “dama na sociedade e puta na cama”. Por que a liberdade sexual, por parte da mulher, denota prostituição? Certamente, uma mentalidade machista que espera da mulher a castidade e do macho um currículo de vasta experiência sexual.
E qual a importância do sexo em uma relação?
V: O sexo é o complemento da intimidade, esta que, certamente, se dá no campo da atração física e atração subjetiva, como a de compartilhar afinidades, enfim, a cumplicidade que se completa no sexo, assim, fecha-se um círculo que se traduz de satisfação e/ou felicidade. Mas é óbvio que no geral não é assim que ocorre. Poucos casais desfrutam desse privilégio. Há o casal que exercita a exploração sexual, até meio pornográfica, mas que não consegue comungar nenhuma troca de intimidade, digamos assim, de alma. Há um vazio na sexualidade quando a mesma tem pouca ou nenhuma intimidade das singularidades dos sujeitos envolvidos. Um desconhecimento do outro que o sexo pelo sexo ajuda a torná-los mais estranhos ainda. Mas também há o caso oposto, o casal que se aprofundou tanto na intimidade que chega a perder o tesão, a relação assume uma aura fraterna, portanto, sem graça e sem chance de sobreviver.
Nem todo casal tem a chamada "química" instantaneamente. Deve haver espaço para se aprender a agradar ao parceiro ou é perda de tempo insistir?
V: A tal “quimíca” pode acontecer e sumir na mesma brevidade com que veio. E possível, sim, aprender, com o tempo, a descobrir aspectos estimulantes no outro. Mas, há casos, que não tem jeito, não cola, ou, usando uma expressão que comumente se utiliza para se referir à antipatia, “os santos não cruzam”. Acho que as pessoas intuem essa questão com bastante facilidade. Por vezes, a decepção se dá porque o sinal de alerta, embora ouvido, não foi acatado. Diria, como falo mo meu livro, que a paixão não cega, mas o sujeito se cega para que a mesma se efetive. Do contrário seria inviável. O apaixonado está o tempo todo consciente dos defeitos do outro, mas precisa desfocalizar para não interditar esse prazeroso estado de alteração hormonal e mental. Prova disso é o fato de que, logo que passa a “febre” da paixão, príncipe vira sapo e princesa gata borralheira.
E qual a importância do sexo em uma relação?
V: O sexo é o complemento da intimidade, esta que, certamente, se dá no campo da atração física e atração subjetiva, como a de compartilhar afinidades, enfim, a cumplicidade que se completa no sexo, assim, fecha-se um círculo que se traduz de satisfação e/ou felicidade. Mas é óbvio que no geral não é assim que ocorre. Poucos casais desfrutam desse privilégio. Há o casal que exercita a exploração sexual, até meio pornográfica, mas que não consegue comungar nenhuma troca de intimidade, digamos assim, de alma. Há um vazio na sexualidade quando a mesma tem pouca ou nenhuma intimidade das singularidades dos sujeitos envolvidos. Um desconhecimento do outro que o sexo pelo sexo ajuda a torná-los mais estranhos ainda. Mas também há o caso oposto, o casal que se aprofundou tanto na intimidade que chega a perder o tesão, a relação assume uma aura fraterna, portanto, sem graça e sem chance de sobreviver.
Nem todo casal tem a chamada "química" instantaneamente. Deve haver espaço para se aprender a agradar ao parceiro ou é perda de tempo insistir?
V: A tal “quimíca” pode acontecer e sumir na mesma brevidade com que veio. E possível, sim, aprender, com o tempo, a descobrir aspectos estimulantes no outro. Mas, há casos, que não tem jeito, não cola, ou, usando uma expressão que comumente se utiliza para se referir à antipatia, “os santos não cruzam”. Acho que as pessoas intuem essa questão com bastante facilidade. Por vezes, a decepção se dá porque o sinal de alerta, embora ouvido, não foi acatado. Diria, como falo mo meu livro, que a paixão não cega, mas o sujeito se cega para que a mesma se efetive. Do contrário seria inviável. O apaixonado está o tempo todo consciente dos defeitos do outro, mas precisa desfocalizar para não interditar esse prazeroso estado de alteração hormonal e mental. Prova disso é o fato de que, logo que passa a “febre” da paixão, príncipe vira sapo e princesa gata borralheira.
"A sociedade é anti-prazer. Mas há também a banalização do sexo, tratando-o como masturbação assistida ou coletiva"
Até onde ir para agradar o companheiro e ser "bom de cama"?
V: Até onde esse ir não consista em um sacrifício, em uma violência aos seus valores e princípios, que te faça perder a sensação de espontaneidade, incondicionalidade. Tudo tem que ser negociado. O que viola a própria pessoa ou passa do seu limite pode matar a relação, cria um nível de cobrança infantil do tipo: “eu fiz aquilo que você me pediu e gosta, agora faça também o que quero”. Enfim, o agradar tem como parâmetro a não invasão ou violência do querer, do desejo.
Mesmo nos casos em que a pele se encaixa com perfeição e sem muito diálogo para tal encaixe, as pessoas constumam diminuir a frequência sexual com o tempo. Por que isso ocorre e há como ser evitado?
V: O cotidiano é cruel e, geralmente, sem graça. Exige muito do cidadão. A burocracia, a morosidade e burrice do terceiro mundo e dos países em desenvolvimento toma muito tempo que poderia ser dedicado ao prazer em geral. A sociedade é anti-prazer. Somos instigados a trabalhar, produzir, e produzir tanto a ponto de ficarmos doente, ou, quando se tem o tempo livre que poderia ser utilizado como ócio criativo, nos sentimos culpados. Há pouco ouvi uma professora doutora dizendo que estava com síndrome do pânico de tanto produzir textos para publicação. Se isso não é toda verdade, pelos menos em sua fala tem alguma verdade: a maioria dos trabalhos produz mais sofrimento do que prazer.
V: Até onde esse ir não consista em um sacrifício, em uma violência aos seus valores e princípios, que te faça perder a sensação de espontaneidade, incondicionalidade. Tudo tem que ser negociado. O que viola a própria pessoa ou passa do seu limite pode matar a relação, cria um nível de cobrança infantil do tipo: “eu fiz aquilo que você me pediu e gosta, agora faça também o que quero”. Enfim, o agradar tem como parâmetro a não invasão ou violência do querer, do desejo.
Mesmo nos casos em que a pele se encaixa com perfeição e sem muito diálogo para tal encaixe, as pessoas constumam diminuir a frequência sexual com o tempo. Por que isso ocorre e há como ser evitado?
V: O cotidiano é cruel e, geralmente, sem graça. Exige muito do cidadão. A burocracia, a morosidade e burrice do terceiro mundo e dos países em desenvolvimento toma muito tempo que poderia ser dedicado ao prazer em geral. A sociedade é anti-prazer. Somos instigados a trabalhar, produzir, e produzir tanto a ponto de ficarmos doente, ou, quando se tem o tempo livre que poderia ser utilizado como ócio criativo, nos sentimos culpados. Há pouco ouvi uma professora doutora dizendo que estava com síndrome do pânico de tanto produzir textos para publicação. Se isso não é toda verdade, pelos menos em sua fala tem alguma verdade: a maioria dos trabalhos produz mais sofrimento do que prazer.
Onde está a qualidade de vida? Acho que nos dias de hoje isso é uma tremenda falácia. Perde-se muito tempo no trânsito louco, violento, imbecil, para resolver questões que, por conta da burocracia, levam horas e horas de chateação, irritação e desperdício de tempo. Mas, os burocratas, geralmente perversos, gozam exatamente desse incômodo, dessa dor etc., que provocam no outro. A relação amorosa é uma plantinha delicada que tem de ser regada com cuidado, com muita água vai encharcar, sufocar, mas pouca água também pode matá-la de desnutrição. Tudo na vida tem a euforia da estréia, da novidade, que com o tempo diminui ou acaba. É a intensidade dessa afinidade e o cuidado que faz a relação se estender por mais tempo, ou que para seu tempo de vida não seja tão breve. Depois, muito dessa brevidade tem a ver com as ilusões, as expectativa muito altas, os castelos de areia. No geral se espera muito sem a disponibilidade de se doar em correspondente intensidade.
Do lado oposto de quem vive um relacionamento estável, está a turma do sexo sem compromisso: conheceu alguém, gostou, transou, acabou. São experiências válidas ou pode se tornar um comportamento perigoso?
V: Antes de qualquer perigo em potencial nessas investidas, tem a coisificação da pessoa e do outro. Um comportamento aquém da condição do animal dito irracional, porque os bichos, pelo menos, são orientados pelo cio com vistas à reprodução. E o humano apenas para extravasar ou desafogar a tensão. Sem qualquer conotação moral, um sexo vazio, portanto, que não acrescenta ou completa nada. Uma esquizoidia: estar com todo mundo e ao mesmo tempo não estar com ninguém. Um corpo que perambula pelas alcovas, um corpo máquina de fazer sexo entregue aos prazeres com qualquer um ou uma. Um corpo público, uma pobreza espiritual.
Há o risco de se banalizar o sexo, de torná-lo uma espécie de "masturbação assistida": não importa quem está ali, porquê está ali, o que importa é o que ele vai me dar, o gozo?
V: Sim, isso é uma banalização do sexo. Uma masturbação assistida ou coletiva, sim. No meu livro, chamo de sexo playground, ou seja, sensações solitárias e de prazeres masturbatórios a dois, cada um que aproveite ao máximo, do contrário que esteja atenta(o) para não perder o gozo nas próximas “rodadas”.
Agora, a masturbação em si, solo, serve apenas para alivar os momentos em que não temos abundância nas relações sexuais ou há outros benefícios?
V: A natureza é sabia, ela nos deu também essa condição do prazer sexual consigo, e isso não nos obriga a nos vulgarizarmos, porque na masturbação solitária o sujeito não se dispersa, está com ele mesmo, e seu imaginário a mil. Nesse caso, é uma masturbação mais segura, menos esquizóide. Lógico que é um paliativo, mas não degradante ou terrivelmente solitário como a masturbação coletiva. A mastrubação com o outro abre - nesse contexto que estou falando - um abismo de solidão que eu diria estéril, ao passo que, na individual o sujeito está só e pode ter algum insight da sua vida, um momento de autoconhecimento.
V: Antes de qualquer perigo em potencial nessas investidas, tem a coisificação da pessoa e do outro. Um comportamento aquém da condição do animal dito irracional, porque os bichos, pelo menos, são orientados pelo cio com vistas à reprodução. E o humano apenas para extravasar ou desafogar a tensão. Sem qualquer conotação moral, um sexo vazio, portanto, que não acrescenta ou completa nada. Uma esquizoidia: estar com todo mundo e ao mesmo tempo não estar com ninguém. Um corpo que perambula pelas alcovas, um corpo máquina de fazer sexo entregue aos prazeres com qualquer um ou uma. Um corpo público, uma pobreza espiritual.
Há o risco de se banalizar o sexo, de torná-lo uma espécie de "masturbação assistida": não importa quem está ali, porquê está ali, o que importa é o que ele vai me dar, o gozo?
V: Sim, isso é uma banalização do sexo. Uma masturbação assistida ou coletiva, sim. No meu livro, chamo de sexo playground, ou seja, sensações solitárias e de prazeres masturbatórios a dois, cada um que aproveite ao máximo, do contrário que esteja atenta(o) para não perder o gozo nas próximas “rodadas”.
Agora, a masturbação em si, solo, serve apenas para alivar os momentos em que não temos abundância nas relações sexuais ou há outros benefícios?
V: A natureza é sabia, ela nos deu também essa condição do prazer sexual consigo, e isso não nos obriga a nos vulgarizarmos, porque na masturbação solitária o sujeito não se dispersa, está com ele mesmo, e seu imaginário a mil. Nesse caso, é uma masturbação mais segura, menos esquizóide. Lógico que é um paliativo, mas não degradante ou terrivelmente solitário como a masturbação coletiva. A mastrubação com o outro abre - nesse contexto que estou falando - um abismo de solidão que eu diria estéril, ao passo que, na individual o sujeito está só e pode ter algum insight da sua vida, um momento de autoconhecimento.
"O amor romântico é sim uma construção social. E daí? O homem pós-moderno despreza o amor, mas não consegue substituí-lo por algo saudável"
Hoje assistimos a uma cultura da erotização. Estima-se que somente a indústria brasileira do sexo lucre cerca de 1 bilhão de reais por ano, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico (ABEME). Qual o preço que se paga pelo consumo e/ou cobrança de tanto sexo?
V: Essa grande quantidade existe em decorrência da pouca qualidade. As pessoas têm que entender que o sexo sem amor, paixão, não preenche, é um como saco sem fundo, logo em seguida quer mais. Torna-se um ciclo vicioso. O sexo com afeto nutre, remete à sensação de conforto do colo materno, do enriquecimento humano. Essa quantidade de consumo pornográfico é um sintoma do vazio desta Era. É uma dor do vazio existencial que as pessoas tentam tamponar com o sexo, pois elas tem a ilusão de que toda essa manipulação e parafernália que a modernidade oferece, vai tirá-las do seu processo de alienação.
Essa busca por sexo pode ser uma fuga, e é muito fácil se esconder ou tentar se proteger no gozo sexual, dado que ele atenua, mesmo momentaneamente, esse mal-estar, mas o sujeito continua daqui a pouco tão infeliz como antes. Não se paga com esse uso apenas o preço material, mas o preço da distância do indivíduo para consigo, do quanto estaria gozando de fato, se tivesse a coragem, a capacidade para se entregar. O amor romântico é uma construção, e daí? Que mal tem isso? Diria que essa é uma das poucas e boas construções da civilização. O amor não faz sofrer, e sim a sua não correspondência e falta do mesmo, como exploro em meu livro. O homem pós-moderno, na sua arrogância, despreza o amor, mas não consegue colocar outra coisa saudável ou útil no lugar, daí o vazio que ele tenta preencher com pornografia, sexo promíscuo e outra formas de drogas e consumos. Afinal, ele não é educado para lidar com os sentimentos, é isso que falta.
Uma vida sexual plena é mais qualitativa ou mais quantitativa?
V: Por tudo que já disse: com certeza, é qualitativa. O dado qualitativo sempre tem um ganho sobre a valência quantitativa, este é imediato, superficial, vazio. O qualitativo é reflexivo, têm raízes, profundidade, beleza, consistência, vida, mesmo que breve. O quantitativo tende ao vício, a busca frenética que não preenche, um querer sempre mais e mais que não tem fim, porque seu fim é o próprio consumo desenfreado.
V: Essa grande quantidade existe em decorrência da pouca qualidade. As pessoas têm que entender que o sexo sem amor, paixão, não preenche, é um como saco sem fundo, logo em seguida quer mais. Torna-se um ciclo vicioso. O sexo com afeto nutre, remete à sensação de conforto do colo materno, do enriquecimento humano. Essa quantidade de consumo pornográfico é um sintoma do vazio desta Era. É uma dor do vazio existencial que as pessoas tentam tamponar com o sexo, pois elas tem a ilusão de que toda essa manipulação e parafernália que a modernidade oferece, vai tirá-las do seu processo de alienação.
Essa busca por sexo pode ser uma fuga, e é muito fácil se esconder ou tentar se proteger no gozo sexual, dado que ele atenua, mesmo momentaneamente, esse mal-estar, mas o sujeito continua daqui a pouco tão infeliz como antes. Não se paga com esse uso apenas o preço material, mas o preço da distância do indivíduo para consigo, do quanto estaria gozando de fato, se tivesse a coragem, a capacidade para se entregar. O amor romântico é uma construção, e daí? Que mal tem isso? Diria que essa é uma das poucas e boas construções da civilização. O amor não faz sofrer, e sim a sua não correspondência e falta do mesmo, como exploro em meu livro. O homem pós-moderno, na sua arrogância, despreza o amor, mas não consegue colocar outra coisa saudável ou útil no lugar, daí o vazio que ele tenta preencher com pornografia, sexo promíscuo e outra formas de drogas e consumos. Afinal, ele não é educado para lidar com os sentimentos, é isso que falta.
Uma vida sexual plena é mais qualitativa ou mais quantitativa?
V: Por tudo que já disse: com certeza, é qualitativa. O dado qualitativo sempre tem um ganho sobre a valência quantitativa, este é imediato, superficial, vazio. O qualitativo é reflexivo, têm raízes, profundidade, beleza, consistência, vida, mesmo que breve. O quantitativo tende ao vício, a busca frenética que não preenche, um querer sempre mais e mais que não tem fim, porque seu fim é o próprio consumo desenfreado.
"Falar sobre sexo ainda tem ranço de tabu, geralmente se esboçam risinhos nervosos ou de curtição"
Para finalizar, a pesquisa "The Face of Global Sex 2008: Sexual Confidence" ("A Face Global do Sexo: Confiança Sexual"), realizada pelo fabricante de preservativos Durex, aponta que a principal fonte de informação sexual do brasileiro são as conversas entre amigos e parceiros. Indústria do Sexo de um lado, amor romântico do outro, amigos com opiniões distintas. Como se encontrar e construir sua própria forma de viver a sexualidade?
V: A educação sexual na escola é babaca, se prende apenas ao aspecto fisiológico, e não às nuances complexas das relações afetivas, da sua subjetividade. Falar sobre sexo ainda tem ranço de tabu, geralmente se esboçam risinhos nervosos ou de curtição, enfim, quase não se fala sobre sexualidade de modo natural. A família não tem informação ou não tem condição suficiente e segura para tal, a escola é um fracasso, a saída é aprender por meios dessas representações sociais.
V: A educação sexual na escola é babaca, se prende apenas ao aspecto fisiológico, e não às nuances complexas das relações afetivas, da sua subjetividade. Falar sobre sexo ainda tem ranço de tabu, geralmente se esboçam risinhos nervosos ou de curtição, enfim, quase não se fala sobre sexualidade de modo natural. A família não tem informação ou não tem condição suficiente e segura para tal, a escola é um fracasso, a saída é aprender por meios dessas representações sociais.
A televisão que poderia ser um excelente veículo para essa demanda se mostra negligente, preconceituosa ou mais preocupada em prender a atenção do público pela excitação. O melhor momento da televisão, nesse sentido, foi o antigo e extinto TV Mulher. Se a Marta hoje é esse trambolho da política, não podemos negar que a mesma deu uma excelente contribuição para a educação sexual e afetiva ao país.
Hoje, quando se oferece alguma coisa é em canal fechado, e com enfoque apenas fisiológico do sexo. Sue Johanson, por exemplo, é uma verdadeira mecânica do sexo, respondendo, na maior parte do tempo, às perguntas idiotas de meio mundo de americanos, perguntas que fariam as crianças das escolas primarias morrerem de rir. A sexualidade discutida por essa sexóloga canadense não tem amor, alma, é apenas um prazer mecânico. No final das suas apresentações, essa idosa sexóloga canadense de rosto tão marcado de vincos tanto quanto as velhas miseráveis castigadas pelo sol escaldante do sertão nordestino, ainda incrementa sua aridez trazendo uma sacola de brinquedos masturbatórios como se fossem a oferta da própria felicidade. Enfim, talvez essa sexóloga, com suas informações e orientações tão práticas quanto uma máquina de apertar parafuso, esteja bem coerente com a condição artificial da Era atual. Como dizem os Titãs: "as flores de plástico não morrem".
por Ruleandson do Carmo/www.euqueriaumcafe.com
0 comentários:
Postar um comentário