'Simplesmente Complicado' é o filme que vamos sugerir essa semana para você!
Simplesmente Complicado (2009), trama da mesma diretora, roteirista e produtora de Do que as Mulheres Gostam (2000) e Alguém tem que Ceder (2003), Nancy Meyers, aborda questões relativas à meia-idade, envelhecimento e amadurecimento. Conflitos, ansiedades e necessidades da mulher de 50, 60 anos são relatados de forma profunda e bem-humorada.
Profundidade e bom humor são, certamente, uma consequência da maturidade. Jane Adler (Meryl Streep) é uma mulher madura, separada há dez anos e mãe de três filhos. Jake Adler (Alec Baldwin), ex-marido de Jane, casou-se com uma mulher jovem e bonita, porém encontram algumas dificuldades na relação devido à diferença de idade. Durante o evento de formatura do filho mais velho de Jane e Jake, acontece uma reviravolta em suas vidas.
- Caso não queira saber maiores detalhes antes de assistir o filme, sugiro parar a leitura por aqui.
Embora idade não seja sinônimo de maturidade, nos filmes de Meyers as mulheres encontram-se na faixa de 50, 60 anos de idade, são bem-sucedidas em sua vida profissional e nos papéis sociais que desempenham com muita naturalidade e prazer. A vida afetiva, porém, é a área em que a diretora se concentra e oferece uma visão positiva sobre relacionamentos maduros.
Os sinais da maturidade são expressos pelas personagens na maneira com que lidam com a ansiedade, solidão, pela qualidade impressa em cada tarefa que realizam e tantas coisas mais que só obtemos com o passar do tempo e com a significação positiva de nossas experiências.
O acúmulo de vida e, portanto, de todo tipo de alegrias e sofrimentos pode trazer amargor, ressentimento e desilusão, originando defesas.
Uma das formas de defesa pode se manifestar por meio da depressão, afastamento do mundo, das relações afetivas, da criação de rituais obsessivos como forma de adquirir a sensação de que controlam algo em suas vidas.
De certa maneira, essa defesa é eficiente no que diz respeito a evitar desilusões nas relações. Porém, a vida permanece em “ponto morto”, já que só somos a partir do outro e só podemos viver de modo autêntico nas relações.
Com o acúmulo de experiências positivas importantes, inicia-se um processo de discriminação do que é saudável ou não, certa “intuição” a respeito das situações, o famoso “já vi esse filme antes…”, e realmente viu, abrindo agora a possibilidade de dar um desfecho diferente. O caminho para o estabelecimento de relações mais maduras, sinceras e verdadeiras passa, necessariamente, por experiências dolorosas que têm de ser significadas para não nos aprisionar.
As mulheres de Meyers cozinham muito bem. Transformam alimentos crus em verdadeira arte culinária. Além disso, amam flores e sabem apreciá-las em suas cozinhas, misturando sua cor e aroma com a cor e o sabor dos alimentos criativamente. Lidam com as mais diversas situações como um maestro que rege uma orquestra. Já viram um pouco de tudo, têm familiaridade com suas capacidades e sentimentos.
Em determinado momento do filme, após terem fumado maconha e relembrado os tempos da juventude na sua pâtisserie, Jane diz a Adam Schaffer (Steve Martin): “pode escolher qualquer coisa pra comer que eu faço. O que está e o que não está no cardápio”.
Tendo escolhido, ela se põe a fazer o croissant. Assim como está habilitada para preparar a massa, o recheio e o café de maneira rápida e divertida, tem também a habilidade de utilizar suas experiências de vida como ingredientes para transformação de um momento comum em algo mágico, criativo e delicioso.
Nos dias de hoje, o vazio produzido pelo nosso tempo está tão profundo quanto a tentativa frenética de preenchê-lo. Em um mundo onde a rapidez e o supérfluo imperam, estes filmes nos lembram da importância de pararmos, refletirmos sobre nosso posicionamento diante deste momento histórico e cultural bem como as possibilidades de viver as etapas de nossas vidas de forma criativa, prazerosa e única, saboreando, enfeitando, fazendo pelas mãos criativas da maturidade uma possibilidade de recomeço eterno. Enquanto dure.
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